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Por: Euclides Morais

O quão rápido você consegue — ou se interessa — em checar uma informação, uma notícia? A falta de literacia mediática deu vida a um conceito complexo, pois no mundo contemporâneo “Só é Fake News tudo aquilo que a lesada consegue provar”.

“É Fake News tudo aquilo que a lesada consegue provar.”
Esta frase serve de ponto de partida para investigar a complexa relação entre fake news e mídia no contexto contemporâneo, onde a verdade deixou de ser um facto absoluto para se tornar uma questão de percepção.

A VERDADE COMO PERCEPÇÃO

Vivemos num ambiente de alta saturação de informações, em que a verdade deixou de ser um consenso e passou a ser uma disputa de percepções. Nesse cenário, as primeiras impressões são decisivas: muitas vezes, a versão inicial dos acontecimentos ganha mais peso do que qualquer contraditório apresentado depois.

Provar a falsidade de uma informação não é simples. A rapidez da narrativa, a carga emocional e o poder de amplificação digital fazem com que, mesmo diante de evidências contrárias, o público mantenha a crença no que primeiro assimilou.

TIPOS DE FAKE NEWS

Na análise, emergem dois tipos principais de fake news:

  1. Falsidade deliberada – a invenção intencional de um acontecimento ou facto inexistente, criada para manipular.

Exemplo: boatos sobre a morte de líderes políticos ou rumores de golpes de Estado.

  1. Distorção de factos – quando há uma base real, mas apresentada de forma enviesada ou descontextualizada.

Exemplo: o uso seletivo de estatísticas económicas para sugerir crises ou sucessos inexistentes.

Ambos os tipos revelam o mesmo princípio: a fake news não vive da mentira em si, mas da força da narrativa.

O IMPACTO DO CONTRADITÓRIO

Quando a mídia lança uma versão inicial, esta molda imediatamente o imaginário coletivo. O desmentido posterior, ainda que provado e documentado, dificilmente tem o mesmo alcance. Assim, a fake news não depende apenas da falsidade, mas da incapacidade do contraditório em desfazer a primeira impressão.

Quem fala primeiro, muitas vezes, vence.

UM DESAFIO DEMOCRÁTICO

As consequências são claras: erosão da confiança nas instituições, polarização política e manipulação social. Em Angola, onde o acesso à informação e a educação mediática ainda enfrentam desafios, a implementação de medidas eficazes é crucial.

MEDIDAS DE COMBATE ÀS FAKE NEWS EM ANGOLA

  1. Promoção da Educação Mediática nas Escolas

Identificar fontes confiáveis: distinguir entre meios credíveis e plataformas de desinformação.

Analisar criticamente a informação: questionar, verificar factos e procurar múltiplas perspectivas.

Compreender os algoritmos: entender como as redes sociais criam “bolhas de filtro” que reforçam crenças já existentes.

  1. Fortalecimento do Jornalismo Independente

Apoiar financeiramente meios independentes sem comprometer a autonomia.

Garantir a segurança dos jornalistas contra perseguições e ameaças.

Incentivar equipas de fact-checking para desmentir rapidamente boatos.

  1. Criação de Mecanismos de Transparência

Regulamentar a publicidade política online, revelando financiadores e valores.

Código de ética para influenciadores digitais, reforçando a responsabilidade social.

Estabelecer plataformas de denúncia e parcerias com redes sociais para remoção célere de conteúdos falsos.

  1. Melhorar o Fluxo entre Comunicação Institucional e Mídia Independente

Criar canais de comunicação procativos, com informações divulgadas antes que se tornem rumor.

Estabelecer relações de confiança entre gabinetes de imprensa e jornalistas.

Apostar na digitalização e acessibilidade, garantindo websites e redes sociais institucionais atualizados.

O PENSAMENTO CRÍTICO COMO ANTÍDOTO

Nenhuma medida será eficaz sem o fortalecimento do pensamento crítico. Ensinar o cidadão a questionar, a não aceitar passivamente a primeira informação e a buscar provas é a melhor defesa contra a manipulação.

A luta contra as fake news não é apenas técnica, mas cultural e democrática. A verdade, no contexto contemporâneo, deixou de ser absoluta para tornar-se um campo de disputa de percepções. Só resiste quando é provada — e só sobrevive quando os cidadãos exercem o seu direito de pensar criticamente.

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