Por: Euclides Morais
O quão rápido você consegue — ou se interessa — em checar uma informação, uma notícia? A falta de literacia mediática deu vida a um conceito complexo, pois no mundo contemporâneo “Só é Fake News tudo aquilo que a lesada consegue provar”.
“É Fake News tudo aquilo que a lesada consegue provar.”
Esta frase serve de ponto de partida para investigar a complexa relação entre fake news e mídia no contexto contemporâneo, onde a verdade deixou de ser um facto absoluto para se tornar uma questão de percepção.
A VERDADE COMO PERCEPÇÃO
Vivemos num ambiente de alta saturação de informações, em que a verdade deixou de ser um consenso e passou a ser uma disputa de percepções. Nesse cenário, as primeiras impressões são decisivas: muitas vezes, a versão inicial dos acontecimentos ganha mais peso do que qualquer contraditório apresentado depois.
Provar a falsidade de uma informação não é simples. A rapidez da narrativa, a carga emocional e o poder de amplificação digital fazem com que, mesmo diante de evidências contrárias, o público mantenha a crença no que primeiro assimilou.
TIPOS DE FAKE NEWS
Na análise, emergem dois tipos principais de fake news:
- Falsidade deliberada – a invenção intencional de um acontecimento ou facto inexistente, criada para manipular.
Exemplo: boatos sobre a morte de líderes políticos ou rumores de golpes de Estado.
- Distorção de factos – quando há uma base real, mas apresentada de forma enviesada ou descontextualizada.
Exemplo: o uso seletivo de estatísticas económicas para sugerir crises ou sucessos inexistentes.
Ambos os tipos revelam o mesmo princípio: a fake news não vive da mentira em si, mas da força da narrativa.
O IMPACTO DO CONTRADITÓRIO
Quando a mídia lança uma versão inicial, esta molda imediatamente o imaginário coletivo. O desmentido posterior, ainda que provado e documentado, dificilmente tem o mesmo alcance. Assim, a fake news não depende apenas da falsidade, mas da incapacidade do contraditório em desfazer a primeira impressão.
Quem fala primeiro, muitas vezes, vence.
UM DESAFIO DEMOCRÁTICO
As consequências são claras: erosão da confiança nas instituições, polarização política e manipulação social. Em Angola, onde o acesso à informação e a educação mediática ainda enfrentam desafios, a implementação de medidas eficazes é crucial.
MEDIDAS DE COMBATE ÀS FAKE NEWS EM ANGOLA
- Promoção da Educação Mediática nas Escolas
Identificar fontes confiáveis: distinguir entre meios credíveis e plataformas de desinformação.
Analisar criticamente a informação: questionar, verificar factos e procurar múltiplas perspectivas.
Compreender os algoritmos: entender como as redes sociais criam “bolhas de filtro” que reforçam crenças já existentes.
- Fortalecimento do Jornalismo Independente
Apoiar financeiramente meios independentes sem comprometer a autonomia.
Garantir a segurança dos jornalistas contra perseguições e ameaças.
Incentivar equipas de fact-checking para desmentir rapidamente boatos.
- Criação de Mecanismos de Transparência
Regulamentar a publicidade política online, revelando financiadores e valores.
Código de ética para influenciadores digitais, reforçando a responsabilidade social.
Estabelecer plataformas de denúncia e parcerias com redes sociais para remoção célere de conteúdos falsos.
- Melhorar o Fluxo entre Comunicação Institucional e Mídia Independente
Criar canais de comunicação procativos, com informações divulgadas antes que se tornem rumor.
Estabelecer relações de confiança entre gabinetes de imprensa e jornalistas.
Apostar na digitalização e acessibilidade, garantindo websites e redes sociais institucionais atualizados.
O PENSAMENTO CRÍTICO COMO ANTÍDOTO
Nenhuma medida será eficaz sem o fortalecimento do pensamento crítico. Ensinar o cidadão a questionar, a não aceitar passivamente a primeira informação e a buscar provas é a melhor defesa contra a manipulação.
A luta contra as fake news não é apenas técnica, mas cultural e democrática. A verdade, no contexto contemporâneo, deixou de ser absoluta para tornar-se um campo de disputa de percepções. Só resiste quando é provada — e só sobrevive quando os cidadãos exercem o seu direito de pensar criticamente.