by APCEM Consulting
Financiamento considerável, mas pouco explorado no digital
As eleições gerais de 2022 em Angola trouxeram avanços em diversos domínios, mas também revelaram grandes desafios na modernização das estratégias eleitorais, principalmente no campo digital. Um dos pontos mais marcantes foi a discrepância entre o financiamento público disponibilizado aos partidos políticos e a utilização efetiva das redes sociais como ferramenta de mobilização de eleitores.
Cada partido político e coligação concorrente recebeu 1.112.050.000 KZ (um bilhão, cento e doze milhões e cinquenta mil kwanzas) para financiar a sua campanha eleitoral.
O orçamento inicial, fixado em 444,8 milhões KZ, foi posteriormente reajustado por meio do Decreto Presidencial nº 166/22, de 24 de junho, quase triplicando os recursos disponíveis.
Apesar desse investimento significativo, apenas três partidos – MPLA, UNITA e PHA – e os seus principais candidatos apostaram de forma estruturada nas redes sociais como canal estratégico para alcançar o eleitorado, especialmente os jovens urbanos e conectados.
Dado preocupante:
Dos oito partidos concorrentes, cinco não utilizaram de forma significativa o meio digital para comunicar propostas ou mobilizar apoiantes, revelando um desalinhamento com as tendências globais da comunicação política.
Por que a mobilização digital importa
As redes sociais desempenham hoje um papel cada vez mais relevante na formação da opinião pública. Plataformas como Facebook, Instagram, TikTok e X são espaços onde eleitores consomem informação, debatem ideias e formam percepções sobre candidatos e partidos.
Ignorar este espaço significa perder acesso directo a milhões de cidadãos, em especial às gerações mais jovens, que cada vez menos consomem mídia tradicional.
Além disso, campanhas digitais oferecem vantagens estratégicas, como:
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- Segmentação precisa do eleitorado por localização, idade, interesses e comportamento online.
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- Rapidez na comunicação, permitindo respostas imediatas a acontecimentos políticos.
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- Redução de custos em relação aos meios tradicionais, com maior capacidade de medir o impacto.
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- Engajamento direto, criando comunidades activas de apoiadores.
2027: o cenário que se aproxima
A APCEM Consulting projecta que as eleições gerais de 2027 serão marcadas por maior competição digital.
O crescimento da penetração da internet em Angola, aliado à expansão do uso de smartphones, fará com que o campo virtual se torne no outro palco de disputa política.
Principais tendências que iremos observar:
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- Campanhas mais profissionalizadas, com equipas especializadas em marketing político digital.
- Uso intensivo de dados e analytics, permitindo decisões estratégicas baseadas em métricas reais.
- Narrativas políticas mais segmentadas, adaptadas a diferentes públicos e regiões.
- Maior risco de desinformação e fake news, exigindo mecanismos robustos de monitoramento e resposta.
- Maior fiscalização pública, uma vez que a comunicação digital deixa rastros e exige transparência.
Resumo
As eleições de 2022 evidenciaram que ter recursos financeiros não garante campanhas eficazes. O baixo aproveitamento das redes sociais por cinco dos oito partidos concorrentes mostrou uma lacuna estratégica significativa.
Para 2027, espera-se uma transformação profunda na dinâmica das campanhas eleitorais, com a comunicação digital no centro das estratégias políticas. Os partidos que não se adaptarem a essa realidade ficarão em clara desvantagem frente a adversários mais preparados, que utilizam dados, tecnologia e narrativas digitais para mobilizar eleitores.
Acompanhe o APCEM Barómetro para atualizações sobre o cenário político-digital em Angola.
Fonte dos dados: https://governo.gov.ao/noticias/215/tecnologia/eleicoes-gerais/financiamento-publico-dos-partidos-politicos-e-ajustado